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Opinião

Opinião: Uma nódoa de tinta que revela as manchas da desigualdade

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A cena parecia saída de um filme: o Primeiro-Ministro, num evento público, é questionado por um jovem estudante que, numa reviravolta de protesto ou, quem sabe, de falta de orientação, decide lançar tinta sobre ele. A sociedade ficou chocada, mas não pela tinta em si. Não, o verdadeiro drama emergiu quando se soube do valor do fato atingido. Afinal, o jovem acabou condenado a pagar uma indenização de 1750 euros pelo fato do Primeiro Ministro e 450 euros ao fotógrafo.

Assim, em poucos minutos, o preço da roupa transformou-se no tema central. Como é que um simples salpico de tinta consegue expor, de forma tão evidente, a diferença abismal entre o guarda-roupa de quem nos governa e o cidadão comum? Os fatos dos nossos líderes são uma armadura moderna, com um preço por peça que rivaliza com o orçamento mensal de muitas famílias portuguesas. A tinta atirada ao fato do Primeiro Ministro foi uma metáfora acidental para a nossa realidade: há quem tenha o luxo de se preocupar com uma nódoa numa camisa de centenas de euros, enquanto outros nem sequer têm uma camisa extra para ir trabalhar no dia seguinte .

Enquanto alguns discutem o melhor método para limpar lã italiana, muitos se perguntam como vão pagar as contas do supermercado esta semana. E assim, a tinta escorre, revelando o verdadeiro custo do estatuto. Não é o tecido que está em causa, mas sim o que ele representa: um símbolo de um abismo ao qual a maioria de nós não tem acesso. Uma tinta? Essa tinta seca e desbotou, mas a mancha da desigualdade permanece.

Este evento levanta questões que vão muito além do preço do fato ou da tinta usada. É uma oportunidade para reflectirmos sobre o verdadeiro custo de uma sociedade que coloca a aparência e o estatuto acima do bem-estar comum. Seria esta situação apenas mais uma prova de que vivemos num mundo onde a roupa que vestimos fala mais alto do que as palavras que dizemos? É curioso como, numa sociedade marcada por desigualdades profundas, dá tanto valor às peças de marca, enquanto muitos lutam para ter o mínimo de dignidade.

Enquanto o Primeiro-Ministro pensa no custo de limpar ou substituir o seu facto manchado, milhares de portugueses lidam diariamente com questões bem mais urgentes: pagar as contas, colocar comida na mesa, ou simplesmente sobreviver. E assim, o ato de lançar tinta.

Há algo profundamente irônico neste momento. Talvez, a tinta derramada fosse melhor investida ao chamar a atenção para o verdadeiro custo de viver numa sociedade onde poucos podem gastar 1750 euros num único fato, enquanto muitos fazem milagres para pagar as contas no final do mês. Porque, na última análise, o valor da tinta parece pequeno se comparado ao impacto que teve. Ela trouxe à superfície uma discussão que frequentemente permanece enterrada: a disparidade social, que separa o poder dos problemas cotidianos da maioria.

No entanto, o evento não é apenas um reflexo do abismo entre o que vestimos e o que somos. Ele aponta para algo ainda mais inquietante: um sistema que valoriza o material sobre o humano. Que atribui valor às peças de roupa, enquanto o valor da dignidade humana continua a ser ignorado. A tinta que manchou o fato de luxo é a mesma que poderia escrever histórias sobre os que lutaram para sobreviver com o mínimo. A tinta que salpicou um símbolo de estatuto é a mesma que poderia redesenhar a forma como vemos o papel de quem governa e de quem é governado.

Assim, como sociedade, devemos questionar-nos: o que realmente significa o custo de uma mancha? Será que é possível limpá-la, tal como limpamos um fato de marca? Ou serão essas manchas – essas desigualdades, essas injustiças – bem mais difíceis de remover? Porque, no final, a tinta talvez tenha marcado que há nódoas bem maiores do que as que ficam no tecido. São as que ficam impressas na nossa consciência, no nosso conceito de igualdade, no nosso entendimento do

Que o Primeiro Ministro fique com a sua indenização, e o jovem, com a dívida. Mas que nós, como sociedade, fiquemos com a reflexão. Porque não há sabão que apague as manchas de uma realidade desigual. E se um simples nódoa de tinta conseguiu expor tanto, imagine o que podemos descobrir se, em vez de escondermos as manchas, nos propusermos a encarar o que elas realmente

No final das contas, a tinta que escorre pelo fato de um governante expõe a ironia de um país em que o preço de um nódoa se mede em euros, mas o custo da desigualdade se mede em vidas. Que este episódio nos lembre: mais importante do que limpar fatos caros é limpar a própria sociedade das nódoas de injustiça e das nódoas de desigualdade que nos marcam dia após dia.

Portugal

Coruche: Arma usada contra Portugal exposta na Câmara Municipal

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Erro Histórico na Comemoração dos 50 Anos do 25 de Abril em Coruche

O diabo, dizem, está sempre nos detalhes. E, neste caso, a máxima faz todo o sentido. De passagem pela pitoresca vila de Coruche, reparei numa falha que vai além de uma mera questão estética ou simbólica. Na fachada da Câmara Municipal, duas tarjas gigantes assinalam os 50 anos do 25 de Abril. No entanto, algo saltou à vista de quem conhece a fundo a história militar portuguesa: a escolha da espingarda AR-10 Armalite na imagem oficial.

Depois de um almoço no restaurante Farnel, pensei que era algum erro de visão, mas não. A AR-10 que aparece nas bandeiras comemorativas não é o modelo utilizado pelos paraquedistas portugueses durante as guerras coloniais, mas sim uma versão diferente, associada a guerrilheiros inimigos que nos combatiam em Angola. Esta espingarda específica foi parte de um lote vendido ao Sudão, que posteriormente a entregou às forças que enfrentaram as tropas portuguesas.

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Este erro não é apenas um detalhe técnico; é um descuido que fere a memória dos militares portugueses que enfrentaram essas armas no terreno. Trata-se de uma arma que foi usada para matar soldados de Portugal, e agora, inadvertidamente, serve de peça decorativa nas paredes da Câmara Municipal de Coruche, num contexto de celebração de liberdade e democracia.

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Este tipo de erro, infelizmente, não é inédito. Em Loures, um cartaz comemorativo apresentou um cravo associado a uma AK-74, outro armamento de origem soviética, símbolo de forças opostas às nossas tropas. Em vez de investigarem cuidadosamente o contexto histórico e o material militar português, parece que o entusiasmo pela estética supera o rigor dos factos.

Ignorância? Talvez. Mas erros como este não são meras distrações. Se não sabem, perguntem. Afinal, o cuidado com a história é também uma forma de respeito pelos que a viveram.

A história merece mais do que decoração descuidada.

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Alentejo

Mora: Munícipes revoltados com presidente por priorizar outdoors turísticos

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paula chuso

A vila de Mora, enfrenta uma série de desafios que vêm afetando a qualidade de vida dos seus habitantes. Entre as principais carências estão a falta de infraestrutura básica, como a melhoria das estradas locais, a necessidade de serviços de saúde adequados e a promoção de oportunidades de emprego para reter a população jovem. A população local tem manifestado crescentes preocupações sobre a falta de ação concreta por parte do executivo municipal para abordar essas questões críticas.

Apesar destas necessidades urgentes, a presidente da Câmara Municipal de Mora, Paula Chuço, recentemente utilizou a página oficial do município no Facebook para anunciar que uma das promessas eleitorais mais importantes foi cumprida: a colocação de outdoors turísticos nas principais vias de acesso às freguesias do concelho, incluindo a localidade de Malarranha.

A presidente afirmou:

“O executivo municipal cumpre agora uma das suas promessas eleitorais mais importantes, com a colocação de outdoors turísticos nas principais vias de acesso às freguesias do Concelho, incluindo a localidade de Malarranha.

Esta é uma medida que se encontra neste momento em execução, estando concluída a primeira fase com a colocação de outdoors onde já existiam estruturas. Muito em breve será iniciada a 2ª fase com a colocação de novas estruturas onde não existiam.

O Turismo é a grande base do trabalho que se tem vindo a desenvolver no presente mandato. É, por isso, considerado como a principal alavanca para a dinamização e para o desenvolvimento económico e social local. A imagem de destaque aliada ao slogan, convidam a entrar e a visitar. Aprecie!”

A reação dos munícipes foi imediata e veemente, criticando a iniciativa como uma distração dos problemas reais que afetam diariamente a vida em Mora. Nas redes sociais, os comentários refletem uma comunidade frustrada e cada vez mais descrente na capacidade da presidente de gerir eficazmente os interesses públicos. Um dos comentários mais curtidos resumia bem o sentimento geral: “Outdoors não consertam estradas nem trazem médicos para a nossa vila.”

A crítica se intensifica ao considerar que outras promessas eleitorais, como a melhoria das infraestruturas básicas, continuam a ser ignoradas. A falta de investimento em saúde pública e na criação de empregos sustentáveis são pontos de discórdia que os munícipes têm levantado repetidamente. A decisão de priorizar a colocação de outdoors é vista por muitos como uma tentativa de maquiagem, sem impacto real no desenvolvimento da vila.

Além disso, os outdoors turísticos foram alvo de chacota e descrença. A imagem e o slogan utilizados foram amplamente criticados por não refletirem a realidade de Mora, parecendo mais uma tentativa superficial de atrair turistas do que uma estratégia séria de desenvolvimento local.

A presidente Paula Cristina Calado Chuço está agora no centro de uma tempestade política, com a sua capacidade de liderança cada vez mais posta em dúvida. Moradores e oposição política exigem medidas concretas e urgentes para resolver os problemas que realmente importam, como a melhoria das estradas, a saúde pública e a criação de oportunidades de emprego.

Com a população cada vez mais impaciente e desiludida, o executivo municipal enfrenta um desafio monumental: provar que está verdadeiramente comprometido com o bem-estar dos habitantes de Mora e não apenas com ações superficiais de marketing.

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Sociedade

Inteligência artificial candidata a autarca nos EUA e a deputado no Reino Unido

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Dois candidatos prometem colocar todas as suas decisões nas mãos de chatbots de inteligência artificial se forem eleitos. Mas, para já, enfrentam questões éticas e legais que podem afastá-los.

Victor Miller, residente na cidade de Cheyenne, no estado norte-americano do Wyoming, anunciou a sua candidatura ao cargo de mayor com uma promessa eleitoral radical: não tomar qualquer decisão pessoalmente. Em vez disso, Miller pretende delegar todas as suas funções a um chatbot de inteligência artificial que ele próprio desenvolveu. Esta decisão insólita coloca a tecnologia no centro da administração pública, prometendo uma revolução no modo como as cidades podem ser geridas.

O chatbot, denominado VIC (Virtual Integrated Citizen, ou Cidadão Virtualmente Integrado), será o verdadeiro decisor. Miller, nas suas palavras, será apenas um “fantoche de carne e osso”, cuja única função será assinar documentos e marcar presença nas reuniões. O objetivo de Miller é demonstrar a capacidade da inteligência artificial de tomar decisões racionais e eficientes, sem influências pessoais ou políticas.

Simultaneamente, no Reino Unido, um candidato ao parlamento britânico adotou uma abordagem semelhante. Esta candidatura visa testar os limites da tecnologia e a sua aplicação na política, mas enfrenta uma série de questões éticas e legais. A substituição de decisões humanas por algoritmos de inteligência artificial levanta preocupações sobre responsabilidade, transparência e a própria essência da democracia.


A candidatura de Victor Miller a mayor de Cheyenne e de um candidato não identificado ao parlamento britânico marca um momento decisivo na interseção entre tecnologia e política. O uso de inteligência artificial (IA) como principal decisor em funções governamentais é, sem dúvida, uma inovação audaciosa, mas traz consigo um debate profundo sobre o futuro da governança e o papel da tecnologia na nossa sociedade.

A promessa de Miller, de ceder todas as decisões a um chatbot, pode parecer uma manobra de marketing ou um experimento social, mas toca em questões centrais sobre a eficiência e a imparcialidade na política. A inteligência artificial pode, em teoria, analisar dados de forma mais objetiva e tomar decisões baseadas em lógica e evidência, livre de preconceitos e pressões políticas. Isto poderia potencialmente resolver alguns dos problemas crónicos da política moderna, como a corrupção e a parcialidade.

No entanto, esta abordagem não está isenta de críticas. Em primeiro lugar, há questões legais. A quem se atribui a responsabilidade por uma decisão errada tomada por um chatbot? Quem responde pelas consequências de uma ação ou omissão? A legislação atual, tanto nos EUA como no Reino Unido, não está preparada para lidar com estas questões. Além disso, a falta de transparência no funcionamento dos algoritmos de IA pode ser uma barreira significativa. Sem uma compreensão clara de como as decisões são tomadas, a confiança pública na IA pode ser baixa.

Eticamente, a utilização de IA na política também é questionável. A democracia baseia-se no princípio de que os eleitos representam a vontade do povo. Substituir humanos por máquinas no processo de decisão pode desumanizar a política e afastar os cidadãos dos processos democráticos. A empatia, a compreensão e a capacidade de julgamento moral são qualidades intrinsecamente humanas que, até ao momento, a IA não consegue replicar.

Apesar das incertezas e dos desafios, é inegável que a inteligência artificial está a moldar o futuro de várias áreas, incluindo a política. A candidatura de Miller e do político britânico é um sinal de que estamos a entrar numa nova era, onde a tecnologia e a governança se encontram de maneiras antes inimagináveis. Este é apenas o começo de um debate que, sem dúvida, se tornará cada vez mais relevante à medida que a tecnologia avança.

Em conclusão, a aplicação da IA na política oferece tanto oportunidades quanto riscos. Cabe a nós, como sociedade, decidir como equilibrar estas forças, garantindo que a tecnologia serve o bem público sem comprometer os valores fundamentais da democracia e da responsabilidade.

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Agricultura

O Dilema das Energias Renováveis e a Preservação dos Terrenos Agrícolas

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Nos últimos anos, a União Europeia tem liderado a adoção de políticas públicas destinadas a combater as alterações climáticas, com a ambiciosa meta de alcançar a neutralidade climática até 2050. Este objetivo é um dos pilares do Pacto Ecológico Europeu, que tem direcionado muitas das políticas nos setores económicos, incluindo a energia, a mobilidade, a construção, a agricultura e a floresta. A estratégia europeia do Green Deal inclui medidas para acelerar a adoção de fontes de energia renováveis, com a intenção de aumentar a sua contribuição para 45% do consumo energético até 2030, face aos atuais 23% registados em 2022.

Recentemente, Itália tomou uma decisão controversa ao proibir a instalação de sistemas fotovoltaicos de grande escala em terrenos agrícolas produtivos. O governo italiano, ao implementar esta medida, procurou compatibilizar a produção de energia fotovoltaica com a atividade agrícola, evitando a perda de terrenos produtivos e o êxodo rural. Esta decisão, embora bem acolhida por algumas associações agrícolas, gerou críticas por parte do setor energético, que a considerou restritiva e prejudicial aos compromissos ambientais do país.

Portugal tem assistido a um crescimento significativo na instalação de parques fotovoltaicos de grande dimensão em terrenos agrícolas. Segundo o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC), em 2023 existiam 2,6 GW de energia fotovoltaica instalada, com uma meta ambiciosa de atingir 20,4 GW em 2030. Destes, 14,9 GW deverão provir de energia fotovoltaica centralizada, necessitando de vastas áreas de terreno.

A título de exemplo, a Central Solar Fotovoltaica da Amareleja, com uma capacidade instalada de 35 MW, ocupa 250 hectares. Para atingir as metas estabelecidas no PNEC, seriam necessários mais de 105.000 hectares, uma área equivalente a toda a superfície irrigada pela barragem do Alqueva, ou dez vezes a área da cidade de Lisboa.

A recente declaração da ministra do Ambiente, apontando para a possibilidade de antecipar a neutralidade carbónica para 2045, reforça a urgência em acelerar os projetos fotovoltaicos. No entanto, a questão que se coloca é se faz sentido impor limites ao desenvolvimento destes projetos em terrenos rurais, à semelhança do que foi feito em Itália.

Os painéis fotovoltaicos representam uma concorrência direta a muitas culturas agrícolas e florestais. As rendas pagas pelos arrendamentos para instalação de painéis solares são frequentemente superiores aos rendimentos agrícolas, oferecendo uma garantia de rendimento sem os riscos associados à produção agrícola. Contudo, esta situação levanta preocupações sobre a sustentabilidade a longo prazo da produção agrícola e a preservação dos terrenos rurais.

A opinião de um CEO de uma empresa elétrica, criticando a destruição de florestas para a instalação de painéis solares, destaca um aspeto importante a considerar. Embora possa estar a defender interesses particulares, a crítica sublinha a necessidade de encontrar um equilíbrio entre a expansão das energias renováveis e a preservação dos recursos naturais.

Para os agricultores, a instalação de painéis fotovoltaicos pode representar uma importante fonte de rendimento adicional. No entanto, é crucial que estejam bem assessorados durante todo o processo de negociação dos contratos de arrendamento, que são de longo prazo e envolvem um mercado altamente volátil.

Em conclusão, o desafio de equilibrar a expansão das energias renováveis com a preservação dos terrenos agrícolas e florestais é complexo. A experiência italiana oferece uma perspetiva relevante para Portugal, onde a necessidade de acelerar projetos fotovoltaicos deve ser cuidadosamente ponderada com a sustentabilidade a longo prazo do mundo rural. Este é, sem dúvida, um dos novos desafios do renovado mundo rural português.

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