Portugal
Quase 50 mil estrangeiros obtiveram nacionalidade portuguesa em 2024 — mas só 15 mil vivem em Portugal
O número de novos cidadãos portugueses voltou a crescer. Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), 46.840 estrangeiros adquiriram a nacionalidade portuguesa em 2024, um aumento de 13% face a 2023. Mas há um detalhe que muda o ângulo da história: apenas cerca de 15 mil destes novos portugueses residem no país.
A liderança voltou a ser israelita. Tal como no ano anterior, quase 18 mil israelitas obtiveram nacionalidade portuguesa, impulsionados pelo regime que permite a naturalização de descendentes de judeus sefarditas. Em segundo lugar surgem os brasileiros, com mais de 11 mil aquisições, seguidos de cabo-verdianos, angolanos e guineenses.
A tendência deverá, no entanto, sofrer uma reviravolta. A nova Lei da Nacionalidade — já aprovada no Parlamento e à espera de promulgação — vai pôr termo ao regime extraordinário dos descendentes sefarditas. O efeito é visível na pressão atual sobre o sistema: mais de 121 mil pedidos entraram neste ano, 92 mil já deferidos e 515.334 processos ainda pendentes, revela o Instituto dos Registos e do Notariado (IRN).
Com a mudança legislativa no horizonte, 2024 pode ser recordado como o último ano de números tão expressivos entre os sefarditas.
Alentejo
Amphora Wine Day reforça papel da Herdade do Rocim na preservação do vinho de Talha

Evento no Baixo Alentejo reúne produtores nacionais e internacionais dedicados à vinificação ancestral em ânfora e talha.
A Herdade do Rocim, entre Vidigueira e Cuba, voltou a acolher o Amphora Wine Day, um encontro que reúne produtores portugueses e estrangeiros dedicados ao vinho de talha, reforçando o papel do Alentejo na preservação desta técnica com mais de dois mil anos.
O evento, promovido anualmente pela Herdade do Rocim, tornou-se uma referência para enólogos, investigadores e consumidores interessados na vinificação ancestral. O método de produção em talha, preservado no Alentejo desde a época romana, utiliza grandes ânforas de barro, as talhas, onde a fermentação ocorre sem recurso a tecnologia moderna, apoiando-se em práticas transmitidas de geração em geração.
Segundo a organização, o Amphora Wine Day pretende valorizar este património imaterial e dar visibilidade a projetos que mantêm ou recuperam métodos antigos de vinificação. A iniciativa reúne produtores que trabalham com talhas ou ânforas de diferentes tradições, incluindo projetos internacionais oriundos da Geórgia e de regiões mediterrânicas onde estas técnicas também subsistem.
Durante o encontro, os visitantes podem provar diferentes vinhos de talha, assistir a conversas sobre o futuro dos vinhos naturais e artesanais e acompanhar demonstrações do processo tradicional, como a abertura das talhas. A programação inclui igualmente gastronomia regional associada à cultura vitivinícola do Alentejo.
A Herdade do Rocim, responsável pela organização, tem desempenhado um papel relevante na revitalização desta técnica. Desde 2014, produz vinhos segundo o método tradicional alentejano, contribuindo para o seu reconhecimento nacional e internacional. O compromisso com práticas sustentáveis e a aposta na identidade do terroir alentejano são apontados pela empresa como centrais na sua estratégia.
O Amphora Wine Day procura, assim, conciliar tradição e contemporaneidade, promovendo a dimensão cultural da talha e reforçando a visibilidade do Alentejo enquanto território onde esta prática histórica permanece viva.
Portugal
Medicamentos essenciais e fármacos até 30 euros não vão aumentar em 2026

Pela primeira vez, os medicamentos considerados essenciais e críticos ficam totalmente isentos da Revisão Anual de Preços (RAP), uma decisão que pretende evitar ruturas e reforçar a sustentabilidade do mercado. O anúncio foi feito esta quinta-feira pelo presidente do Infarmed, Rui Santos Ivo.
A portaria agora publicada alarga ainda a isenção aos medicamentos com preço de venda ao público até 30 euros, valor que no ano passado estava limitado aos 16 euros. A medida deverá gerar poupanças de cerca de 50 milhões de euros, que, segundo o Infarmed, serão usadas para reforçar o acesso a terapias inovadoras e apoiar a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde.
Entre os fármacos abrangidos estão medicamentos de grande utilização em Portugal, como Metformina (antidiabético) e Paracetamol (analgésico). Já no mercado hospitalar, manter-se-á a isenção para medicamentos até 75 euros, como o Docetaxel, utilizado em oncologia, e soluções como o cloreto de sódio. Acima desse valor, deixa de existir travão à descida de preços.
Na lista de medicamentos essenciais também entram fármacos como a Azitromicina injetável (antibacteriano) e o ácido valpróico (antiepilético).
Rui Santos Ivo sublinha que a revisão anual é um mecanismo de controlo da despesa e de atualização dos preços face aos mercados de referência: Espanha, França, Itália e Bélgica. A nova portaria, afirma, procura equilibrar contenção e segurança no acesso a terapêuticas fundamentais.
Portugal
Alemanha avança para um modelo de recrutamento universal: juventude convocada, país dividido

A Alemanha prepara-se para dar um dos passos mais significativos da sua política de defesa desde a suspensão da conscrição obrigatória, em 2011. A partir de 2026, todos os jovens do sexo masculino que completem 18 anos serão convocados para um processo de registo e avaliação de aptidão militar — um mecanismo que Berlim insiste continuar a ser “voluntário”, mas que, na prática, reinstala a engrenagem logística de um alistamento universal.
O anúncio, que chega num momento de tensão geopolítica e de pressão crescente sobre as Forças Armadas alemãs, marca uma mudança profunda na relação entre o Estado e a juventude. E abre um debate nacional que cruza defesa, economia e direitos fundamentais.
A triagem obrigatória disfarçada de voluntariado
O novo sistema funciona assim: todos os homens são convocados para preencher um questionário de predisposição e passam por uma avaliação médica básica. As mulheres podem participar de forma voluntária, mas também serão convidadas.
No final, as Forças Armadas identificarão um “banco de mobilizáveis” — centenas de milhares de jovens mapeados, avaliados e classificados.
A Bundeswehr, que procura aumentar o efetivo para cerca de 260 mil militares até 2035, necessita urgentemente deste “mapa humano”. Nos bastidores, admite-se que, se as inscrições voluntárias não forem suficientes, o governo poderá transformar esta triagem em recrutamento efetivo. O mecanismo legal fica, assim, criado.
Para o general Carsten Breuer, chefe do Estado-Maior, é simples: “A Alemanha precisa de saber quem pode mobilizar, em que condições e com que rapidez.” A frase — aparentemente técnica — levanta, no entanto, uma questão que paira sobre o debate público: a Alemanha está a preparar-se para quê?
NATO, Rússia e a sombra das guerras modernas
O impulso para esta reforma vem de vários lados. Da NATO, que exige maior prontidão militar aos seus membros. Dos compromissos de despesa em defesa assumidos após a invasão russa da Ucrânia. E das fragilidades crescentes da Bundeswehr: falta de equipamento, atrasos crónicos em modernizações, e um défice de pessoal que impede o país de cumprir plenamente as suas obrigações aliadas.
A imagem de uma Alemanha pacifista e burocrática, muito distante do músculo militar de outras potências europeias, começa a ser revista. Para Berlim, a defesa deixou de ser um tema periférico. É agora questão de soberania.
Impactos sociais: juventude inquieta, escolas e empresas em alerta
O novo modelo tem implicações profundas:
Educação e mercado de trabalho: universidades e empresas receiam perturbações no calendário dos jovens.
Igualdade de género: a exclusividade inicial para homens reacende debates constitucionais.
Imagem do serviço militar: perante um país habituado ao voluntariado, o registo obrigatório coloca pressão ética sobre adolescentes que, até aqui, nunca tinham sido confrontados com esta possibilidade.
Organizações estudantis falam de um “regresso disfarçado da conscrição”. A oposição acusa o governo de querer reintroduzir o serviço obrigatório “pela porta do cavalo”. No governo, a resposta é direta: “A liberdade não se defende sozinha.”
Efeito Europa: o que este movimento significa
O gesto alemão tem dimensão continental.
Na Suécia, Noruega, Dinamarca e Lituânia, a conscrição já foi reativada.
A França discute uma remodelação do seu Serviço Nacional Universal.
Em Itália cresce a pressão política para reintroduzir o serviço obrigatório.
A decisão alemã poderá funcionar como catalisador.
Com a maior economia europeia a rearmar-se, os restantes países dificilmente poderão ignorar o sinal.
E Portugal?
Portugal acompanha o debate com atenção.
O nosso modelo de voluntariado tem sofrido com dificuldades de recrutamento, perdas para o mercado privado e carência de especialistas em áreas tecnológicas e de ciberdefesa.
Embora o Governo não tenha manifestado intenção de alterar o regime, o cenário europeu pode obrigar a uma revisão estratégica a médio prazo.
Se a União Europeia caminhar para um reforço conjunto das capacidades militares, a discussão não ficará confinada a Berlim.
O país que acorda para o mundo
A Alemanha enfrenta hoje uma encruzilhada: manter a tradição pacifista que marcou as últimas sete décadas ou assumir que a segurança europeia exige preparação, mobilização e resiliência.
O novo modelo não é ainda recrutamento obrigatório, mas prepara tudo o que um sistema de conscrição precisa: bases de dados, exames, logística, convocatórias, mecanismos de triagem e definição de contingentes.
É, no fundo, o regresso de uma ideia antiga com ferramentas novas.
Se 2026 será um ano de adaptação ou o prelúdio de uma reintrodução plena do serviço militar, dependerá não apenas das escolhas políticas, mas do rumo do mundo. A Alemanha sabe-o. E o resto da Europa também.
Portugal
ALTER DO CHÃO: LÍDER FINANCEIRO DO DISTRITO — MAS O QUE DIZ, DE FACTO, O RANKING QUE O COLOCA NO TOPO?

O município de Alter do Chão conquistou o primeiro lugar no distrito de Portalegre e a 16.ª posição a nível nacional — entre os municípios de pequena dimensão — no Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses 2024, apresentado no Porto, no auditório da Ordem dos Contabilistas Certificados. A câmara exibiu o resultado com orgulho: “um reconhecimento do rigor e da transparência”, afirmou em comunicado.
A pontuação — 1.337 pontos num universo de 100 municípios mais bem classificados — coloca Alter do Chão no lote das autarquias com melhor desempenho financeiro do país. Mas este tipo de ranking, apesar de sólido enquanto ferramenta técnica, costuma gerar leituras políticas e mediáticas que extravasam o que realmente mede.
Este artigo procura responder a três perguntas fundamentais:
- O que significa estar no topo deste ranking?
- Quais são as fragilidades do modelo?
- Como deve ser lido o resultado de Alter do Chão num contexto mais amplo?
Um ranking sólido — mas apenas na vertente financeira
O Anuário Financeiro é elaborado pelo Centro de Investigação em Contabilidade e Fiscalidade do IPCA, com apoio da Ordem dos Contabilistas Certificados e do Tribunal de Contas. Trabalha exclusivamente com contas oficiais dos municípios — dados certificados, auditados e tornados públicos todos os anos.
A metodologia combina 10 indicadores financeiros, entre os quais:
Liquidez
Execução orçamental
Endividamento
Resultados líquidos
Prazos médios de pagamento
Peso dos impostos nas receitas
Excedente corrente
É um instrumento robusto. Mas é também uma ferramenta de mensuração parcial. Avalia eficiência financeira, não qualidade da governação nem desenvolvimento do território.
Quando um município anuncia que está “no topo”, está a falar apenas das suas contas — não da saúde económica local, não da qualidade das políticas públicas, não do bem-estar dos munícipes.
E isso exige uma leitura prudente.
As três fragilidades estruturais do ranking que importa conhecer
Apesar de tecnicamente sólido, o ranking tem limitações importantes que influenciam a sua leitura.
- O que não mede é tão importante quanto o que mede
O Anuário não avalia:
infraestruturas degradadas,
níveis de investimento social,
capacidade cultural e económica,
políticas ambientais,
atratividade para empresas ou população,
qualidade do serviço público.
Significa isto que uma autarquia pode ter contas impecáveis — e simultaneamente um território envelhecido, com infraestruturas por renovar e fraca capacidade de investimento.
Não é o caso específico de Alter do Chão, mas o ponto mantém-se:
a eficiência financeira não é uma fotografia completa da governação.
- As ponderações influenciam o resultado
Os 10 indicadores são combinados através de ponderações definidas pelos autores do estudo. Mudar os pesos — mesmo ligeiramente — pode deslocar um município várias posições.
Esta é uma limitação normal em índices compostos, mas deve ser assumida.
Ou seja, o lugar no ranking é um resultado técnico, não uma verdade absoluta.
- O ranking não consolida a “saúde do grupo municipal”
O modelo avalia essencialmente:
as contas da câmara, não
as contas combinadas de empresas municipais, associações ou entidades participadas.
Se várias responsabilidades financeiras estiverem deslocadas para essas entidades externas, o ranking pode não refletir a “fotografia total” do universo municipal.
Nos municípios pequenos, como Alter do Chão, esta distorção tende a ser menor — mas não é inexistente.
Alter do Chão: o que o ranking realmente nos diz
O estudo mostra que Alter do Chão apresenta:
boa liquidez,
baixo endividamento,
execução orçamental equilibrada,
prazos de pagamento controlados,
excedentes operacionais positivos.
Em termos técnicos, isto significa que:
Alter do Chão está a gerir de forma responsável as suas contas e não está a pressionar a dívida pública local.
Isto é factual e merece reconhecimento.
Contudo, há uma nuance muitas vezes ignorada:
a eficiência financeira reflete sobretudo a capacidade de não gastar mais do que se tem — não a capacidade de transformar o território.
O interior pode ser exemplar na gestão financeira e, ainda assim, continuar sem massa crítica populacional, sem investimento privado e com serviços públicos fragilizados.
Alter do Chão é um concelho com enorme riqueza patrimonial, qualidade de vida e identidade, mas enfrenta desafios estruturais idênticos aos restantes municípios do Alto Alentejo:
perda demográfica,
envelhecimento acelerado,
baixa densidade empresarial,
fragilidade no acesso a serviços essenciais.
O ranking não revela, nem pretende revelar, estes aspetos.
A questão essencial: o que fazer com este resultado?
Se o objetivo é comunicação política, Alter do Chão pode legitimamente celebrar um bom desempenho financeiro.
Mas se o objetivo é projetar o futuro, então o ranking deve ser visto como um ponto de partida — não como um ponto de chegada.
Porque boa gestão financeira é importante, mas inútil se não se traduz em:
atrair pessoas
fixar empresas
qualificar o território
melhorar serviços
proteger património
diversificar economia
garantir coesão social.
O desafio do interior não é apenas gastar bem.
É saber onde investir, como investir e com que visão estratégica.
Conclusão: rigor nas contas, prudência na leitura
Alter do Chão tem razões para estar satisfeito.
Mas o jornalismo, ao contrário da política, não deve ficar-se pela celebração.
É indispensável sublinhar que:
O ranking é credível e tecnicamente rigoroso.
Os dados são oficiais e auditados.
Nada indica que haja erros ou incongruências nos números.
Mas também:
A eficiência financeira não mede qualidade de governação.
Nem mede desenvolvimento económico.
Nem mede bem-estar das populações.
Nem mede capacidade estratégica ou visão de futuro.
O ranking é útil — mas limitado.
E Alter do Chão, como tantos municípios de pequena dimensão, continua preso ao que é hoje o verdadeiro desafio do interior:
conseguir transformar contas equilibradas em futuro sustentável.
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