A manhã desta quinta feira continua marcada pelos efeitos da depressão Claudia, que tem provocado chuva intensa e perturbações em várias infraestruturas. Segundo a E-REDES, cerca de 16 mil clientes encontravam se sem eletricidade às 08h30 nos distritos de Lisboa, Santarém e Setúbal.

O número representa uma melhoria face ao registado cerca de meia hora antes, quando 20 mil clientes estavam sem abastecimento — sendo oito mil só no distrito de Setúbal, uma das zonas mais castigadas pelo mau tempo.

A empresa assegura que mantém equipas no terreno, em vigilância permanente, para restabelecer o fornecimento com a maior rapidez possível, embora as condições meteorológicas adversas dificultem os trabalhos.

Entre a meia noite e as seis da manhã, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) registou 86 ocorrências, sobretudo inundações em vias, garagens e edifícios, com particular incidência na Grande Lisboa, Península de Setúbal e Oeste.

O distrito de Setúbal, sob aviso vermelho devido à precipitação intensa, foi o mais afetado, acumulando 43 ocorrências. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) prevê que as condições mais severas de pluviosidade se mantenham pelo menos até às 09h00, prolongando o alerta em toda a região.

Uma mulher deu à luz esta madrugada dentro de um Uber, enquanto seguia a caminho do Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa. O nascimento inesperado ocorreu minutos após o início da viagem, quando a grávida avisou o motorista de que o bebé estava prestes a nascer.

Segundo o condutor, em declarações ao Correio da Manhã, a mulher tinha estado no hospital cerca de meia hora antes, mas recebeu alta. “De repente oiço chorar”, contou, descrevendo o momento em que percebeu que o parto já tinha acontecido no banco de trás do veículo.

O motorista afirmou ter conseguido contactar o pai do bebé e confirmou que mãe e recém-nascido estão bem de saúde. “Foi um grande susto, mas tentei manter a calma e chegar o mais rapidamente possível ao hospital”, acrescentou.

A ministra da Saúde lamentou o sucedido e informou que aguarda esclarecimentos do Hospital São Francisco Xavier sobre o caso. O episódio, insólito e com final feliz, levanta novas questões sobre os protocolos de alta hospitalar em casos de gravidez em estado avançado.

Um acidente ocorrido esta quarta-feira à tarde entre um camião e três automóveis provocou dois feridos ligeiros e obrigou ao corte total do Eixo Norte-Sul, na zona de Telheiras, em Lisboa, segundo os Sapadores Bombeiros.

O alerta foi dado às 13h27, e as vítimas foram encaminhadas para o Hospital de Santa Maria. O impacto da colisão foi de tal forma violento que o separador central da via deslocou-se, exigindo trabalhos de reposição e limpeza que prolongaram o corte da circulação em ambos os sentidos durante várias horas.

Pelas 16h20, já era possível ver veículos a circular parcialmente no sentido sul-norte, mas as autoridades não avançaram previsão para a reabertura total da via.

De acordo com o Serviço Nacional de Emergência e Proteção Civil, estiveram no local 12 operacionais, apoiados por quatro veículos, numa operação que envolveu bombeiros, polícia e equipas de assistência rodoviária.

O Eixo Norte-Sul, uma das principais artérias de ligação entre as zonas norte e sul da capital, registou longas filas e perturbações significativas no trânsito durante toda a tarde.

Morreu Sei Miguel, trompetista e compositor, uma das figuras mais singulares e visionárias do jazz português. Tinha 64 anos. A notícia foi confirmada na noite de terça-feira, 11 de novembro de 2025, por amigos e colaboradores próximos, entre eles o baixista Hernâni Faustino e Rui Pedro Dâmaso, diretor do festival Out.Fest.

Mais do que um músico, Sei Miguel foi um pensador do som — um artista que desafiou convenções e recusou a domesticação estética que frequentemente assombra o jazz institucional. Nascido em Paris, em 1961, viveu parte da infância no Brasil, regressando depois à Europa, onde se fixaria em Portugal nos anos 80.

Em 1984 fundou o grupo Moeda Noise, com Fala Mariam — sua parceira artística e afetiva — e João Parrinha, num gesto de pura experimentação sonora. A estreia discográfica, Breaker (1988), marcou o início de uma trajetória marcada por autonomia criativa e independência intelectual. Nesse mesmo ano, foi capa da BLITZ, tornando-se rapidamente um nome de culto no circuito alternativo.

O jazz como resistência

Sei Miguel cultivou uma estética radicalmente pessoal, feita de silêncio, de pausas, de microgestos — o trompete de bolso era a extensão física da sua busca espiritual pela música. Ao longo de quatro décadas, editou mais de vinte discos e colaborou com projetos como No Noise Reduction e Pop Dell’Arte, cruzando improvisação, minimalismo e vanguarda.

Na entrevista ao jornal Público em 2010, deixou uma das suas declarações mais emblemáticas: “O jazz cada vez mais instituído, o jazz pseudoglobal e da União Europeia Caga Regras (UECR), não me quer. E eu, assim como ele se tornou, também não o quero. Importa-me o jazz verdadeiro.”

Essa recusa em integrar o conforto do sistema musical fez dele um artista de culto, reverenciado por críticos estrangeiros — a revista britânica The Wire chamou-lhe “o segredo mais bem guardado da nova música portuguesa”.

O legado e o silêncio

O seu último álbum, Panorama, lançado em 2024 com Fala Mariam e Daniel Levin, mostrou um Sei Miguel fiel ao princípio que o guiou até ao fim: a procura da liberdade total através do som.

A morte de Sei Miguel representa uma perda profunda para a música portuguesa, mas também a celebração de uma obra que sobrevive ao tempo — a de um homem que viveu como tocava: sem concessões, com elegância e ferocidade intelectual.